Certos animais não se fazem rogados quando sentem no corpo algo que lhes é alheio, pelo que tratam de se sacudir avidamente, na tentativa de se libertarem desse jugo.
Assim somos todos nós, humanos, quando nos é apresentada uma verdade inédita que nos custa a incorporar, aceitar, admitir.
Fazêmo-lo de modo menos corporal que os animais, mas em termos de movimento os nossos cérebros tratam de sacudir a ideia do nosso eu, repudiando-a pela entrada invasiva no nosso prezado sistema de concepção das coisas.
Amuaremos, faremos greve, chamaremos nomes, pontapearemos, boicotaremos, enrubesceremos, torna-nos-emos feras. Com sorte conseguiremos extraditar convincentemente o agente externo que nos perturbou. Porém, nenhuma purga é total, nenhuma lavagem completa, nenhuma inoculação anulável.
Algo permanecerá retido e será esse algo que sinalizará o início da conformação uma ideia nova, a uma verdade até então estrangeira.
Algo permanecerá retido e será esse algo que sinalizará o início da conformação uma ideia nova, a uma verdade até então estrangeira.
Essa é simultaneamente a maldição e a virtude da consciência humana. Somos naturalmente capazes para a mudança mas algo nos impede, hesitamos, procuramos alternativas que nos mantenham na plataforma mental atual. Eventualmente, durante milénios de apredizagem, conseguiremos aceitar a ausência de qualquer estado de coisas, inclusivamente (em última instância, o último ser humano) a nossa própria existência.
ResponderEliminarExcelente ponto de vista o teu, totalmente de acordo!
Obrigado, Vasco Oliveira.
ResponderEliminarMuito bom.
ResponderEliminarBoa analogia. Subscrevo.