Não há qualquer decoro nesta pintura. Contraposta a um background totalmente negro, emerge uma mulher atrativa (pelos parâmetros renascentistas…) que olha para a sua criada enquanto que esta enche o seu copo de vinho. É curioso que a mão da criada toca na mulher, enquanto que esta roça o seu dedo indicador na manga do braço do homem. Esta coreografia de mãos parece ser um sinal. O senhor da esquerda é submerso em escuridão, apenas iluminado nas secções que desvendam a sua tramóia: retira um ás de paus do seu cinto que certamente juntará às restantes cartas. Um segundo homem aparece à direita, concentrado no seu jogo. É observado pela criada mas parece não se aperceber disso. Todas as figuras revelam olhares imprecisos e enganadores, sugerindo uma cumplicidade suspeita entre elas. Este jogo de cartas é de facto uma demonstração das capacidades da alma humana em apostar nos vícios do engano, da luxúria e do álcool.
Nós, os observadores, o povinho, somos cúmplices! Reparem como parece ainda haver espaço na mesa para a nossa presença, como se nos fosse oferecida também a oportunidade de participarmos nesta tramóia tomando a parte do tramado!
Uma imagem que vale bem as tuas palavras.
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