domingo, 24 de junho de 2012

À minha maneira...



E agora, o fim está aqui,
Encaro então,
A cortina final,
Meu amigo, falarei claro,
Exporei o meu caso, 
do qual tenho a certeza,
Eu vivi uma vida cheia,
Eu viajei cada estrada,
E muito mais que isso,
Fi-lo à minha maneira

Arrependimentos,
Eu tive alguns,
Mas, novamente, muito poucos para mencionar.
Fiz o que tinha a fazer e vi tudo, sem isenção.
Planeei cada caminho do mapa,
Cada passo, à minha maneira.
E mais do que isso,
Fi-lo à minha maneira…
Sim, houve muitas vezes,
Tenho a certeza que tu sabias,
Mordi muito mais do que o que podia mastigar,
Mas apesar de tudo,
Quando havia dúvidas, eu engoli e cuspi,
Enfrentei tudo e,
Fi-lo à minha maneira.

Eu amei, eu ri e chorei,
Tive as minhas falhas, a minha parte de derrotas.
E agora,
Como as lágrimas descem,
Eu acho tudo tão divertido.
Pensar que fiz  tudo,
Talvez possa dizer, não de uma maneira tímida,
Óh óh não,
Fi-lo à minha maneira…

Pois o que é o homem, o que ele tem?
Se não ele próprio, não tem nada…
Para dizer o que sente verdadeiramente e,
Não as palavras de alguém que se ajoelha…
O registo mostra, suportei os golpes,
E fi-lo à minha maneira...


Sim, fi-lo à minha maneira...
 Jacques Revaux, Claude Francois, Gilles Thibaut, Paul Anka

sexta-feira, 22 de junho de 2012

O que (não) vemos.


Não são poucas as vezes que damos conta de ter esgotado todas as formas possíveis de enfrentar uma situação, conhecer uma pessoa, traçar um percurso, definir uma estratégia, ler um livro, ouvir uma música, ver um filme, comer uma refeição, cantar uma canção, tocar uma peça, dizer uma palavra, uma frase, um discurso de muitas palavras e muitas frases, cumprimentar um amigo, sorrir, escovar os dentes, ensaboar o corpo, outras. Prevertidamente, pensamos que conhecemos tudo ou então que tudo o resto não pode ser melhor do que já foi vivido. Será aborrecido passar novamente por um outro mesmo ainda que ligeiramente diferente. Se tal é assim, de mesmo não se pode chamar.

Não são poucas as vezes que damos conta de ter esgotado todas as formas possíveis de observar uma paisagem. Haverá sempre mais uma, muitas vezes nascida do instantâneo, que nos surpreende, que nos muda, que nos faz nunca mais querer outra...


segunda-feira, 18 de junho de 2012

Sobre a tolerância musical como forma de refinamento cultural



Há quem julgue perceber de música a tal ponto que se convence a determinada altura de que tem um direito celestial para descartar peremptoriamente toda a produção que não encaixe nos seus padrões canónicos e de a esconjurar da sua proximidade.

A tolerância para com os géneros musicais é um sinal de refinamento bem mais poderoso do que qualquer musculada satirização e ridicularização daqueles tipos de música que nos causam mais urticária ao ouvido, mas sobretudo ao pensamento. Aproxima as pessoas.

É que a cultura e a nossa relação com ela funciona como um barómetro gratuito de aferição do grau de maturidade e ecletismo que mora em cada um de nós. Ao pressupores que tens em ti todo um tremendo conhecimento musical que te torna capaz de discernir sobre que música é boa e que música não presta, transformas-te mais num ditador musical do que num especialista em música.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

a quaestio mihi factus sum

''a questão que me tornei para mim mesmo'' 


''É altamente improvável que nós, que podemos conhecer, determinar e definir a essência natural de todas as coisas que nos rodeiam e que não somos, venhamos a ser capazes de fazer o mesmo a nosso próprio respeito: seria como saltar sobre a nossa própria sombra''.
...

''O problema é que as formas de cognição humana aplicáveis às coisas dotadas de qualidades naturais - inclusive nós mesmos, na limitada medida em que somos exemplares da especie de vida orgânica mais altamente desenvolvida - de nada nos valem quando levantamos a pergunta: e quem somos nós?''

A condição humana,  Hannah Arendt, 1958


O maior desafio do Homem expressa-se, na simples pergunta, quem somos nós?

Quem sou eu? Quem és tu? Já alguma vez pensaste nisso?

Tenta por escassos momentos responder a essa simples pergunta; um mar dúvidas inquietantes apoderar-se-à de ti...Não fujas dele...Talvez não durmas nessa noite, talvez na seguinte, também não feches os olhos...

Se irá valer a pena? Não sei...Mas não mais ficarás indiferente à tua condição humana...O desafio de uma vida acaba de começar...Felicidades para o caminho...

Partilha o que descobrires...

segunda-feira, 4 de junho de 2012

A Jangada de Pedra

as vidas não começam quando as pessoas nascem, se assim fosse, cada dia era um dia ganho, as vidas principiam mais tarde, quantas vezes tarde de mais, para não falar daquelas que mal tendo começado já se acabaram, por isso é que o outro gritou, Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido.

a esses observadores que conseguem ver um completo olimpo de deuses e deusas onde não há mais que simples nuvens passando, ou àqueles que têm diante dos olhos Júpiter Tonante e lhe chamam vapor atmosférico, não nos cansaremos nunca de recordar que não basta falar de circunstâncias, com a sua divisão bipolar entre antecedentes e consequentes, como por abreviação de esforço mental se usa, mas sim é necessário considerar o que infalivelmente se situa entre uns e outros, digamo-lo por extenso e na sua ordem, o tempo, o lugar, o motivo, os meios, a pessoa, o facto, a maneira, se tudo não for medido e ponderado espera-nos o erro fatal no primeiro juízo proposto. O homem é um ser inteligente, sem dúvida, mas não tanto quanto seria desejável, e esta é uma verificação e confissão de humildade que sempre deverá começar por nós próprios, como da caridade bem compreendida se diz, antes que no-lo atirem à cara.

pelo dedo se conhece o gigante

(A Jangada de Pedra, José Saramago)