quarta-feira, 25 de março de 2015

Ode a um artista



Mark Knopfler

E a vida vai passando
de arte em arte
de sorriso em sorriso
sempre vagabunda de nós

Os gestos querem-se artísticos
o quotidiano demanda
por frágil subtileza de sentidos
cada movimento é comandado
para ser único e incomparável
ritmo natural das coisas

por favor, sem comentários

É como esta pausa solitária
da guitarra clássica
que ouço antes de me deitar
esboço um sorriso
não pelos pensamentos, malditos
mas pela existência brotada
dos rendilhados sonoros
que a ausência de voz provoca

Alegria não é felicidade
nem dor tristeza
apesar de serem confundidas
umas são existências
outras vidas
perdidas pelas marés
do tempo e da memória
abastecidas por esta faísca
que agora queima
sempre depois
sempre um passo à frente

A arte
não se compara
não se analisa
não se constrói
não se processa
não se pensa
não se vive
existe

por favor, sem comentários,
como tu sabes, mark


rafael

domingo, 27 de outubro de 2013

Arábia Saudita em "Apartheid"

Depois de um já esperado e prolongado divórcio entre o Viela do Hilário e os seus subscritores, eis que, depois de uma caminhada ao Monte Roques, o blogue regressa. Não sabemos, contudo, se para durar ou para ficar pelo caminho...

E por falar em divórcio, retomo a actividade deste espaço, não com uma situação triste e ao mesmo tempo caricata como a do Carrilho e da Bárbara, mas com uma demonstração pública de solidariedade com o divórcio entre os direitos humanos e as mulheres da Arábia Saudita.
Se é certo que a igualdade entre os géneros tem ainda UM caminho longo a percorrer em Portugal, a verdade é que em muitos países em pleno século XXI perpetuam discriminações entre os géneros que são castradoras do desenvolvimento, mas, acima de tudo, indignas e inaceitáveis aos olhos dos direitos humanos. Na verdade, a actividade económica deste país progride sem que direitos elementares da condição humana sejam assegurados.
Neste caso as mulheres manifestaram-se por lhes serem impedido o direito de conduzir. Ora este direito, como muitos outros que lhes são confiscados à nascença por serem de género oposto ao dominante, é elementar e não deveria constituir qualquer tipo de dúvida ou proibição Em paralelo com esta violação dos direitos humanos muitas outras ocorrem por esse mundo fora, sendo que muitas com maior dimensão e gravidade. Ou seja, há ainda muitos "apartheid's"....


sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O verdadeiro significado de 'Sociedade Evoluída'

The brightest light is the one you follow.




Eu não sei o que é que vocês pensam… mas eu sempre tive uma 'relativa facilidade' em me colocar no lugar dos outros e, ultimamente, há uma ideia que não me tem saído da cabeça.






Se eu fosse um extraterrestre, eu não quereria visitar uma civilização que, pura e simplesmente, está a acabar com o único mundo que tem para subsistir… isso enquanto o sol não nos engole, mas pronto.

Eu não percebo como é que procuramos água e vida noutros planetas, eu não consigo perceber isso enquanto continuarem a morrer pessoas devido à fome, pessoas a morrer de sede, PESSOAS como nós que, independentemente da cor, possuem O direito de ter uma oportunidade. Eu não percebo porque é que o capitalismo explora tão vorazmente o continente no qual TODOS tivemos origem, eu não percebo tanta coisa… eu não percebo como é que existem princípios tão egocêntricos e deturpados, eu não percebo o porquê de existir 'gente de alta roda que dita a moda do Fado'. O nosso Fado….

Enquanto esta sociedade não conseguir resolver os seus problemas [desigualdade sócio-económica, fome… fome… fome… 'another soul is dying'] nós nunca seremos uma sociedade evoluída. Enquanto interesses oligárquicos continuarem a decidir o destino do Mundo, não seremos uma sociedade evoluída. Enquanto existirem guerras e ódio em vez de paz e amor, nunca seremos essa sociedade utópica que nos consideramos ser. NUNCA, mas mesmo nunca iria invadir um mundo como o nosso com o intuito de o conquistar [caso fosse ALIEN]… era só esperar pela auto-destruição humana que se está a materializar e, enquanto isso, lia um jornal e tomava um café. Ou então ia conquistar outros mundos…

domingo, 21 de outubro de 2012

Sobre as marcas, a influência delas e a gestão dessa exposição



Pitágoras recomendou àqueles que pretendiam ter bons pensamentos que se rodeassem de belas imagens. Ao revisitar o pensamento deixado por este ícone da Grécia clássica, abre-se caminho para que te consciencializes de que existem efeitos silenciosos e indiretos, que se jogam paralelamente à comunicação explícita, aos quais ninguém fica incólume.

Diversas coisas nos influenciam, nos mais diversos modos. Foi porventura esta constatação que levou o comércio a explorar, aprimorar e até exagerar o efeito da manipulação de influências externas associada processos de compra e venda. Assim terá nascido, arrisco, o marketing como o conhecemos.

As marcas são hoje bastiões de sugestão de estilos de vida, bastiões de sugestão de utopias a perseguir, e bastiões também de invenção de novas necessidades geradas à imagem e semelhança da sua suprema e incorrigível vontade de vender produtos.

Sem ti, elas (as marcas) não existem, mas será que sem elas tu também não? É esta a pergunta que te deixo, a qual encerra chaves para debateres no teu íntimo ou publicamente, em que medida a tua existência social orbita excessivamente em torno de marcas e em torno do que elas te sugerem em termos de imaginário no qual depois te projectas.

sábado, 13 de outubro de 2012

A Carta


Se por um instante Deus se esquecesse que sou uma marioneta de trapo e me oferecesse mais um pouco de vida, não diria tudo o que penso, mas pensaria tudo o que digo.
Daria valor às coisas não pelo que valem, mas pelo que significam.
Dormiria pouco, sonharia mais.
Entendo que por cada minuto que fechamos os olhos, perdemos 60 segundos de luz.
Andaria quando os outros páram, acordaria quando os outros dormem.
Ouviria quando os outros falam e como desfrutaria de um bom gelado de chocolate…
Se Deus me oferecesse um pouco de vida, vestir-me-ia de forma simples, deixando a descoberto não apenas o meu corpo, mas também a minha alma.
Meu Deus, se eu tivesse um coração, escreveria meu ódio sobre gelo e esperava que nascesse o sol.
Pintaria com um sonho de Van Gogh as estrelas de um poema de Benedetti, e uma canção de Serrat seria a serenata que oferecia à Lua.
Regaria as rosas com minhas lágrimas para sentir a dor dos seus espinhos e o beijo encarnado das suas pétalas…
Meu Deus, se eu tivesse um pouco mais de vida, não deixaria passar um só dia sem dizer às pessoas de quem gosto que gosto delas.
Convenceria cada mulher ou homem que é o meu favorito e viveria apaixonado pelo Amor.
Aos Homens, provar-lhes-ia como estão equivocados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saberem que envelhecem quando deixam de se apaixonar.
A uma criança dar-lhe-ia asas, mas teria de aprender a voar sozinha.
Aos velhos, ensinar-lhes-ia que a morte não chega com a velhice, mas sim com o esquecimento.
Tantas coisas aprendi com vocês Homens…
Aprendi que todo o mundo quer viver em cima de uma montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a encosta.
Aprendi que quando um recém-nascido aperta com sua pequena mão, pela primeira vez, o dedo de seu pai, o tem agarrado para sempre.
Aprendi que um Homem só tem direito a olhar outro de cima para baixo quando vai ajudá-lo a levantar-se.
São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas não me hão-de servir realmente de muito, porque quando me guardarem dentro dessa maleta, infelizmente estarei a morrer…”



Gabriel Garcia Marquez

domingo, 7 de outubro de 2012

Ouçámos Ricardo Reis...


Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Ricardo Reis