quinta-feira, 8 de março de 2012

Algo sobre a rutura do tempo

Dizem alguns cientistas e filósofos que o tempo não é linear e contínuo, não passa sempre da mesma maneira. Aliás, arrisco a dizer que a passagem do tempo é tudo menos regular e coerente.

Isso acontece porque o tempo é um conceito da mente humana e nela crescem e murcham representações da realidade que construímos a partir do que já vivemos ou do que inda viveremos. Vulgarmente, atribuímos a estes conjuntos de representações as designações de passado e futuro.

Um exemplo: quando imagino uma vida da qual o meu pai já não faz parte é como se estivesse a dizer em paralelo “O meu pai morreu”. Nesse momento, vivo num tempo futuro e por essa razão sinto um vazio tão grande e um aperto no estômago que se torna verdade, apenas para mim e apenas durante esses instantes.

O mesmo acontece com o passado. Quando recordamos algum momento do passado, surge uma rutura no tempo. Mentalmente desloco-me ao passado, ou melhor, à ideia do passado que construí, por exemplo, de um momento de felicidade. Claro que procuro reter-me nesse momento, prolongá-lo, repeti-lo. A noção de tempo (segundos, minutos, horas) cessa e existo apenas nesse intervalo temporal construído na mente.

Essas ruturas são uma das chaves da felicidade. Elas existem e continuam a existir da forma tão recorrente quanto o desejarmos ou nos é imposto. Assim, acredito que o presente e tudo o que nele está incluído não são a única fonte de (in)felicidade. Toda a bagagem de experiências pessoais passadas ou por vir é igualmente importante, já que nessas experiências vivemos também durante tanto tempo.

Que o diga o avô que observa os netos a brincarem e recorda a sua infância feliz.

Que o diga a noiva apaixonada que ensaia mentalmente o seu casamento.

Religião e ciência à parte, faz realmente muito sentido que se diga que alguém ou algo vive através de nós, das nossas ruturas temporais.

1 comentário:

  1. Curiosa a importância que o tempo tem nas nossas vidas, seja porque marca o ritmo a que vivemos, quer porque limita esse mesmo ritmo.
    O tempo, aquele que nos obriga a escolhas,influência-as e nos limita. Raros os momentos, pertencentes ao próprio tempo, em que pensamos na preciosidade deste ser imaterial, deste ser que ninguém ousa dizer onde começou e onde terminará...Talvez ele próprio também não o saiba...Curioso!!!
    Ouvir-te falar de tempo, recorda-me Pessoa, e falar de Pessoa é algo a que não resisto...
    (...)
    Mas eu não quero o presente, quero a realidade:
    que as coisas que existem, não o tempo que as mede.
    (...)
    Não quero incluir o tempo no meu esquema.
    Não quero pensar nas coisas como presentes; quero pensar nelas como coisas.
    (...)

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