terça-feira, 24 de julho de 2012

Rascunhos...



Uma bela tarde de verão fazia-se adivinhar às primeiras horas da manhã daquele dia, quando cedo me levantei e as cortinas do quarto corri. Como todos os dias, as janelas do lugar que melhor conheço abri, um som incomum abraçou o ar pérfido saído do lugar onde acabara de descansar. Estranha sensação apoderou-se do meu inocente ser. Algo não estava bem naquele dia. Um ardor frio entranhou-se no meu peito. Não havia meio de sair, por muito que abraçasse o meu próprio corpo, por mais que tentasse soltar-me, o frio teimava em não abandoná-lo. Não queria acreditar no que me estava a acontecer. Inúmeros e variados pensamentos apoderaram-se do meu órgão supremo. Por breves momentos, procurei em vão encontrar alguma rede lógica capaz de unir todos aqueles pedaços oriundos de um lugar desconhecido. Um maço de cigarros entreaberto, pousado na escrivaninha já velha, junto da porta do quarto, acabara por ser o meu melhor amigo naquela manhã. O pegar do cigarro, o inspirar daquele bicho de pai desconhecido e mãe ausente, que os médicos, doentes do seu próprio conhecimento, tanto aconselham a não amar, é algo pelo qual me apaixonei, não pretendendo ser traído, não fosse ele o meu libertador e companheiro nas horas mais sombrias a que me fui acostumando, à medida que a vida se me foi mostrando.
(...)
Uma brisa quente apoderou-se do meu rosto, ainda meio ensonado, e fez brotar dos meus lábios o belo sorriso que eu emanava sempre que algo bom pela cabeça me passava.. Aos poucos, o frio, que invadira o meu corpo naquelas primeiras horas do dia, tornou-se menos intenso. Nas primeiras passadas que acabara de dar, o rosto da bela jovem, que conhecera uns dias antes numa esplanada junto a uma praia a escassos quilómetros da casa onde vivia, tomou conta do meu pensamento - como poderia não tomar... Aqueles cabelos castanhos lisos ao vento , como se de uma musa se tratasse, preenchiam qualquer definição de belo que eu conhecia.


Hugo Barbosa

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