domingo, 4 de março de 2012

Valer a pena


Não são tão poucas as vezes que referimos a expressão 'valer a pena'. Nessas vezes, a expressão é usada sem se conhecer a sua origem, talvez porque seja isso mesmo: não vale a pena!

Daquilo que se sabe, sujeito ao erro natural, porque ninguém esteve lá para ver ou ouvir, a expressão tem origem na mitologia egípcia. Para os egípcios (e mais tarde outros), a morte física não era o fim da existência, mas sim a passagem para uma vida espiritual no Além. Nos primórdios desta civilização, a vida para além da morte estava apenas destinada aos Faraós. Posteriormente esta possibilidade foi alargada a toda a população desde que a vida no mundo terreno fosse vivida em plena justiça e harmonia.

Para aferir se a vida tinha sido vivida em concordância com a deusa Maet (da justiça e do equilíbrio), o defunto era julgado na Sala das Duas Verdades. Este Julgamento Final (ou Julgamento de Osíris) é relatado no Livro dos Mortos, e à cena que retrata este julgamento dá-se o nome de psicostasia.

O defunto era levado à sala pela mão de Anúbis (corpo de homem, cabeça de chacal, deus da morte e do submundo). Na sala, o coração do defunto, tomado como símbolo de todas as emoções, desejos e ações, era pesado no prato esquerdo de uma balança. À direita, era colocada a pena da deusa Maet. Anúbis, averiguava o comportamento da balança, Toth (deus de todas as ciências, da sabedoria e da escrita, cabeça de íbis) anotava o resultado e Anemait (devoradora dos Mortos, parte leoa, parte hipopótamo e cabeça de crocodilo) esperava pela decisão. Se o coração fosse mais pesado que a pena, Anemait devoraria o coração e o defunto sofreria a Morte Final Completa. Com o coração aniquilado por Anemait, deixava de existir a possibilidade de ressurreição. Se o coração fosse mais leve que a pena, a alma poderia continuar o seu caminho e entrar no reino de Osíris, na eternidade.

Daqui vem a expressão 'valer a pena'. São emoções, desejos e ações que não nos tornam o coração pesado e fazem valer o peso da pena. E tudo vale a pena, mesmo não sendo a alma pequena?

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